quarta-feira, 25 de maio de 2011

Hero e Leandro

O sol começava a despontar lentamente no estreito de Helesponto, que separa a Europa da Àsia.Uma moça, chamada Hero, subia lentamente as escadas que levam ao topo do farol sorrindo lentamente. Chegando ao topo do farol, Hero lançou as vistas para fora.Suas narinas freminaram, aspirando levemente o ar acre do fim da tarde.Olhou para a chama do pavio da grande lanterna, que iluminava o mundo, estava quase apagada e avivou-la de novo.Hero permaneceu um longo tempo pendurada no parapeito, quando de repente ela foi despertada por um ligeiro espanejar em meio ás águas, que estavam incólumente calmas.Pensou: é ele com toda certeza.De fato, com uma categoria impressionante Leandro, vinha nadando entre as ondas com vigor e regularidade.A jovem, com um grito de satisfação, lançou-se em direção da escadaria, descendo com agilidade por uma corda.Hero aguardava na praia a chegada de Leandro, segurando seu manto, pois ele vinha nu, para facilitar o contato com as ondas do mar.Vencida as ondas, Hero corre ao encontro de Leandro, deixando cair na areia as vestes de Leandro e também as suas.
Leandro pronuncia suas palavras: Consegui, mais uma vez! E toma o rosto da jovem com suas mãos.Hero responde-lhe sorridente: _ Que bom!E beijaram-se, retirando-se para a casa da moça que morava sozinha na ilha.Enamoraram-se febrilmente.
Já de madrugada, Hero, acariciando os longos cabelos de Leandro diz-lhe que não quer que ele repita as palavras que disse ao sair do mar--Consegui mais uma vez!--.Leandro pergunta-lhe por quê.
_Por que dá impressão que um dia você não vai conseguir.Leandro colocou o dedo indicador nos lábios de Hero e disse-lhe, confiante, típico da juventude:
--Não diga tal coisa, eu semprei conseguirei. E logo depois partiu novamente ao mar, deixando o manto nas mãos de Hero, que do parapeito, observava o corpo másculo do amante desaparecer suavemente entre as ondas.Passou então a contar as horas esperando anoitecer para o retorno do amado.
Quando o sol se pois, porém foi logo coberto por uma espessa camada de nuvens, surgida de lugares distantes.Júpiter, em sua fúria, não se sabe por que, mandava raios e trovões, que ofuscavam o brilho da luz do farol.Ao mesmo tempo, os ventos viravam e reviravam as ondas do Helesponto, numa fúria incontrolável, lançando-se em todas as direções.Começou então a chover, com uma intensidade jamais vista.
Hero, apavorada no farol pensava em Leandro, correndo para o farol para lançar mais lenha, mantendo a chama acesa.Mas uma onda monstruosa arremeteu-se para dentro do farol, apagando e inundando tudo.Hero, preocupada, buscava respostas, refletia.De repente, tudo se dissipou, as nuvens, a água, os raios e trovões, tudo cessou.Hero, aguardou muito tempo sentada no parapeito do farol, até que viu algo boiando nas águas: era o corpo de Leandro, que vinha sendo trazido lentamente para a praia.A moça, mais pálida que a luz, desceu num vento as escadas do farol e contrariando seus modos de timidez e discrição, soltou um berro pavoroso e colou sua boca ao peito de leandro, nu e sem vida.
Chorou amargamente e depois pegando o corpo de Leandro atirou-o ao mar, sem ânimo para lamentações.Depoi subiu o penhasco mais alto do farol, com uma fria determinação.Uma vez no topo, com os pés e mãos machucados, a jovem Hero ergueu o rosto para a noite estrelada, que se aproximava.Seus próprios olhos eram duas estrelas, que brilhavam em meio á noite que se comparavam com os seus cabelos negros e revoltos.Por um momento as duas noites se encaravam, embora a face trágica de Hero demonstrasse força e determinação, ao deixar-se cair no abismo do mar.

2 comentários:

Acalanto disse...

andro era um jovem de Ábidos, cidade situada na margem asiática do estreito que separa a Ásia da Europa. Na margem oposta do estreito, na cidade de Sestos, vivia a donzela Hero, sacerdotisa de Vênus. Leandro a amava e costuma atravessar o estreito a nado, todas as noites, para gozar a companhia da amante, guiado por uma tocha, que ela acendia na torre, para esse fim.

Mas, numa noite de tempestade, em que o mar se achava muito agitado, o jovem perdeu as forças, e afogou-se. As ondas levaram o corpo à margem européia, onde Hero tomou conhecimento de sua morte e, desesperada, atirou-se da torre ao mar e pereceu.

A história de Leandro atravessando o Helesponto a nado era tida como lendária e considerada impossível, até Lord Byron provar sua possibilidade, realizando a façanha ele próprio. Na "Noiva de Ábidos", diz ele:

Estes membros que as ondas carregaram

A distância na parte mais estreita do Helesponto é de quase uma milha (1.609 m) e há uma corrente constante, no sentido do Mar de Mármara para o Arquipélago. Depois de Byron, a travessia tem sido realizada por outros. De qualquer maneira, porém, trata-se de uma proeza notável, capaz de assegurar fama àquele que a consiga realizar.

No começo do segundo canto do mesmo poema, Byron assim alude à
lenda:

Sopram fortes os ventos no Helesponto,
Como naquela noite tempestuosa
Em que o próprio Amor que o enviara
De salvar descuidou-se o bravo jovem,
o belo jovem, única esperança
de Hero, filha de Sesto. Solitária,
na alta torre a fogueira crepitava,
Desafiando o furacão e as ondas.
As marítimas aves, crocitando,
Pareciam gritar-lhe que não fosse
E a cor escura das pesadas nuvens
Era outro núncio do perigo extremo.
Nada, porém, ele escutava ou via
Senão a luz do amor,a luz da estrela
Que, nas trevas, brilhava, solitária,
E a voz de Hero, a voz do amor, nas trevas,
Abafando o fragor da tempestade.



Thomas Bulfinch em O LIVRO DE OURO DA MITOLOGIA, Ediouro, 2000.

adaptado por

Moacir Índio da Costa Júnior

2003

Acalanto disse...

andro era um jovem de Ábidos, cidade situada na margem asiática do estreito que separa a Ásia da Europa. Na margem oposta do estreito, na cidade de Sestos, vivia a donzela Hero, sacerdotisa de Vênus. Leandro a amava e costuma atravessar o estreito a nado, todas as noites, para gozar a companhia da amante, guiado por uma tocha, que ela acendia na torre, para esse fim.

Mas, numa noite de tempestade, em que o mar se achava muito agitado, o jovem perdeu as forças, e afogou-se. As ondas levaram o corpo à margem européia, onde Hero tomou conhecimento de sua morte e, desesperada, atirou-se da torre ao mar e pereceu.

A história de Leandro atravessando o Helesponto a nado era tida como lendária e considerada impossível, até Lord Byron provar sua possibilidade, realizando a façanha ele próprio. Na "Noiva de Ábidos", diz ele:

Estes membros que as ondas carregaram

A distância na parte mais estreita do Helesponto é de quase uma milha (1.609 m) e há uma corrente constante, no sentido do Mar de Mármara para o Arquipélago. Depois de Byron, a travessia tem sido realizada por outros. De qualquer maneira, porém, trata-se de uma proeza notável, capaz de assegurar fama àquele que a consiga realizar.

No começo do segundo canto do mesmo poema, Byron assim alude à
lenda:

Sopram fortes os ventos no Helesponto,
Como naquela noite tempestuosa
Em que o próprio Amor que o enviara
De salvar descuidou-se o bravo jovem,
o belo jovem, única esperança
de Hero, filha de Sesto. Solitária,
na alta torre a fogueira crepitava,
Desafiando o furacão e as ondas.
As marítimas aves, crocitando,
Pareciam gritar-lhe que não fosse
E a cor escura das pesadas nuvens
Era outro núncio do perigo extremo.
Nada, porém, ele escutava ou via
Senão a luz do amor,a luz da estrela
Que, nas trevas, brilhava, solitária,
E a voz de Hero, a voz do amor, nas trevas,
Abafando o fragor da tempestade.



Thomas Bulfinch em O LIVRO DE OURO DA MITOLOGIA, Ediouro, 2000.

adaptado por

Moacir Índio da Costa Júnior

2003